03 setembro 2008

AMOR

Na Faculdade a depressão estava grave, fazia muita, muita força para viver os meus dezenove aninhos. Como lidar com o fato de ter uma doença tão invisível facilmente associada a preguiça, frescurite, mimo, falta de dar valor ao que tem, chilique, etc etc etc...? Passei a ser atriz, um lado meu queria muito ser aceita, consequentemente fingia que estava tudo bem.
Filme: Diário de uma paixão
Não parei um segundo sequer para analisar os episódios do suicídio número um e dois, ao contrário, era como se estes fossem inexistentes. Tinha vergonha de assumi-los para mim mesma. Minha família não entendia o que se passava e uma das minhas irmãs na tentativa de ajudar insinuou que podia ser macumba. Não que eu não acredite no poder de se amarrar o nome de alguém na boca de um sapo e soltá-lo em uma encruzilhada, mas sabia que meu caso era doença. O que não me impedia de frequentar as festinhas e o único barzinho disponível para os poucos alunos da cidade. Zumbiava pela cidadezinha, só Deus sabe como! Em uma destas acabei por conhecer um calouro de dezoito anos. Conversamos bastante e ficamos. Pra variar não dava importância para relacionamentos, estava tão sufocada pelo peso da doença que não queria dividi-lo com um mártir. Já era tanto sofrimento eu comigo mesma que não fazia questão alguma de ter um namorado convencional com cobranças superficiais, para uma suicida em potencial não ornaria, enquanto eu estivesse pensando em como me matar o menino pensaria que eu estaria pensando em algum ex e com a minha irritação nada pensada acabaria por ser uma assassina suicida trazida à tona pela lenga lenga de namoro... Porém tal calouro era diferente, masoquista talvez, insistiu tanto que namoramos, um namoro muito bonito que resultou em um amor belíssimo, o qual jamais sonhei em desenvolver na realidade. Foi devido a esse relacionamento lindo que descobri que o melhor é desfrutrar da realidade, pois ela traz a possibilidade do amor. Amor este que está muito além do amor sensual, que eleva o "gostar muito" a uma categoria inclassificável e permanente.

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