07 agosto 2008

CONFUSÃO

Fiquei um tempo em minha cidade natal testando tratamentos para depressão, estava com dezoito anos. Não me recordo quanto tempo fiquei lá, sei que não queria mais voltar para a Faculdade, na verdade não queria mais nada. Porém minha família que ainda não entendia a gravidade do assunto, achando que se tratava apenas de mais uma crise de aborrecente saindo da adolescência, me initimou a dar continuidade aos estudos, mesmo não havendo interesse em aplicá-los como profissão.
Voltei para Águas de São Pedro para retomar a vida de estudante, fui muito bem acolhida pelos amigos, sempre eles. Voltava todo fim de semana para minha cidade natal aonde fazia terapia aos sábados. Toda sexta-feira à tardezinha pegava meu carrinho e dirigia três horas, como era bom! Amava, como até hoje amo, dirigir sozinha na estrada. O "carro-okê", nomenclatura breguinha que adoro, (ligo o som alto e canto canto canto) é uma terapia! A estrada um modo muito eficiente de auto-conhecimento, ao menos para mim. Bom, mesmo não sendo muito fã da psicanálise, senti uma leve melhora. Mas tive que parar porque estava gastando muito com minhas idas e vindas semanais. Uma amiga conterrânea que estudava na mesma faculdade que eu resolveu marcar algumas psicólogas para mim em Piracicaba, cidade vizinha de Águas de São Pedro. Ela me levou em algumas e eu só piorei. De uma delas ouvi: "Nossa você uma jovem que tem tudo estar assim, não pode você tem que reagir!", seria como dizer a um asmático em crise, morrendo por falta de ar: "Reaja! Respire! Corra agora! Você não tem nada, seu fingido!". Levantei-me e fui embora. E assim recomecei a busca pelo tratamento adequado. Os remédios só me pioravam; terapia estava difícil, achar alguém com tivesse empatia e fosse bom, até que um dia minha irmã mais velha, médica como minha mãe, indicou uma mulher. Pensei que estaria em boas mãos. Nesse dia, não querendo incomodar minhas amigas, peguei o carro e fui sozinha para Piracicaba, um percurso de uns vinte minutos apenas. Estava péssima, entrei chorando na sala da psiquiatra que nem sequer olhou para minha pessoa e foi logo escrevendo uma receita com um medicamento novo e o nome de uma psicóloga, caso eu julgasse necessário. Imagina, eu completamente confusa aos dezoito anos diagnosticada com uma doença que ninguém gostava de falar a respeito e mesmo que falassem que era doença a maioria, dos próprios médicos, ainda a encaravam como frescurite.Claro que desabei na frente da médica, que simplesmente não esboçou qualquer reação! Que ser humano vê uma criatura naquele estado e simplesmente ignora? Aquela mulher, provavelmente interessada apenas em embolsar dindim. Aquela cena deve ter sido ridícula, eu aos prantos não tinha força nem para me levantar da cadeira e aquela múmia sem coração me levantanado sem graça para me enxotar discretamente da sua sala. E assim foi durante um tempo. Não ia mais para minha cidade natal, minha família me cobrava que tivesse uma vida de gente normal, me fechei, fiquei sozinha. Tinha minhas amigas mas não gostava de enchê-las com meus problemas. Mentia que também ia viajar no fim de semana para minha cidade ficando sábado e domingo trancafiada na república sozinha. Feriado era melhor ainda, vários dias a sós. Às vezes reunia forças e me arrastava para as cachoeiras, para o contato com a natureza, mas não me encaixava em lugar algum, queria sair de mim. Era o peso, era morta viva sufocada, incompreendida por mim mesma que não aceitava a doença, pelo jeito não sendo a única.

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